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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

NOTA DE OPINIÃO PUBLICADA NA REVISTA "INVENIRE" Nº 3 * JUL.- DEZ. 2011 (REVISTA DOS BENS CULTURAIS DA IGREJA)

remoção de repintes numa escultura em madeira policromada

*Imagens ou esculturas? Entre a expectativa dos fiéis e as necessidades da intervenção*

“ A imagem sagrada, o ícone litúrgico, representa principalmente Cristo. Não pode representar o Deus invisível e incompreensível; foi a Encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova economia das imagens… A iconografia cristã transpõe para a imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura transmite pela palavra. Imagem e Palavra esclarecem-se mutuamente (…)”[1]

Com este pequeno excerto, podemos considerar o quanto a intervenção de conservação e/ou restauro é sempre complexa e delicada, aumentando a complexidade quando a obra a intervencionar mantém as suas características cultuais e devocionais, sobretudo quando a acção implique a alteração do aspecto estético que os fieis estão habituados a contemplar, no caso em que as obras tenham sido alvo de intervenções anteriores duvidosas e pseudo-restauros que tenham provocado alterações marcantes nas mesmas. Ora, “a obra de arte é, em primeiro lugar, resultante do fazer humano e, enquanto tal, não deve depender para o seu reconhecimento das alternâncias de gosto ou de moda (…)”[2]

Assim, consideramos pertinente abordar aqui de forma sucinta este tema, focando-o essencialmente neste aspecto: Imagens/Esculturas repintadas?  Conviver com elas ou buscar a sua essência original?
Em todas as paróquias esta situação é problemática, pois qualquer de nós, envolvidos na preservação do património cultural, já verificou que não existe praticamente nenhum espaço litúrgico, no qual não exista uma ou mais peças repintadas/repolicromadas, sejam elas bens integrados, sejam móveis, como é o caso específico da imaginária. Na maior parte dos casos serão situações ocorridas em tempos bastante recuados, embora coexistam também situações mais recentes. E, é aí que reside o problema, pois na maior parte dos casos, os fiéis habituaram-se ao aspecto adulterado que a imagem emana, ignorando tal facto. Em muitos casos, nunca conheceram a peça no seu estado original, dificultando pois assim a aceitação de uma intervenção que vá alterar aquilo que lhes é familiar e com que convivem e veneram desde sempre.

O conservador-restaurador nunca pode dissociar escultura e imagem no âmbito da intervenção que efectua, num contexto em que a obra esteja num espaço cultual, porquanto o valor estético e artístico que a primeira encerra está concomitantemente dependente da mensagem da segunda e vice-versa. Para o fiel, o que conta é a imagem. O que ela representa como exemplo de vida de alguém que para si é um arquétipo virtuoso, um modelo a seguir. No entanto, é também a missão do conservador-restaurador contribuir para a (in)formação e educação patrimonial do público em geral e, em especial, do grupo-alvo abordado. Para isso, deverá o mesmo promover acções de sensibilização na paróquia onde irá actuar, a fim de esclarecer dúvidas e afastar receios, no que respeita á intervenção a realizar em determinada peça.

Finalizando esta nossa pequena reflexão, consideramos ser muito importante promover mecanismos de diálogo que permitam, com a boa vontade de todos os envolvidos, diminuir os riscos consequentes da manipulação das obras. Apesar da complexidade que envolve o universo dos bens culturais, podemos concluir que é necessário cimentar uma profunda mudança de mentalidade, quer ao nível dos profissionais envolvidos, bem como dos responsáveis pela tutela e manutenção dos mesmos.
A conservação do Património deve fazer-se a favor da comunidade, com a comunidade e não contra ela.

                                      Eurico Rodrigues Conde
                                    (Conservador-restaurador)

Bibliografia
BRANDI, Cesare, Teoria do Restauro. Edições Orion. Amadora, 2006.
CALVO, Ana, Conservacion y Restauracíon – Materiales, Técnicas y Procedimientos – de la A a la Z. Ediciones del Serbal. Barcelona, 1997.
CARVALHO, Maria João Vilhena de, Normas de Inventário. Artes Plásticas e Artes Decorativas. Escultura. IPM. Lisboa, 2004.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, Gráfica de Coimbra, Lda, 1993.
CLERIN, Ph., La Sculpture. Toutes les techniques, Paris, 1988.
LÓPEZ, Maria José Gonzalez, Metodologia de Estudio y Criterios de Intervencíon en Escultura Policromada en el IAPH (II), Ph. Boletín del Instituto Andaluz del Patrimonio Histórico. Núm. 12. 1995. Pag. 44-49.
PHILIPPOT, Paul, La Restauration des Sculptures Polychromes. Studies in Conservation - International Institute for Conservation of Historic and Artistic Works. Vol. 15, Nº 4, 1970.

[1] Catecismo da Igreja Católica - Gráfica de Coimbra, Lda, 1993. P: 266.

[2] BRANDI, Cesare - Teoria do Restauro. Edições Orion. Amadora, 2006, p. 39

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

LIMPEZA QUÍMICA DE POLICROMIA EM CONSERVAÇÃO E RESTAURO





Nestes quatro registos, apresentamos várias zonas de uma
escultura de Cristo Crucificado, durante o processo de
limpeza química por via húmida (utilização de solventes em solução).
A sujidade aderente à policromia era composta por poeiras,
fuligem de velas, pingos e escorrências de cera.
Verificava-se também a existência de
variadas concreções e elementos estranhos à obra,
os quais foram removidos também por via mecânica, com recurso a bisturi.
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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

CONSERVAÇÃO E RESTAURO - CRISTO CRUCIFICADO III




Pormenor da cabeça da imagem escultórica de Cristo Crucificado,
da qual já colocámos imagens em posts anteriores.
No registo superior podemos observar uma fenda
na zona de assemblagem, bem como o
escurecimento/oxidação do verniz de protecção
e várias lacunas na policromia.
O fotograma inferior regista a mesma zona, após a intervenção.
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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

CONSERVAÇÃO E RESTAURO - CRISTO CRUCIFICADO II





Como no post anterior,
apresentamos aqui registos mais aproximados de uma imagem
em madeira policromada, na qual existiam várias patologias,
tanto ao nível do suporte,
como ao nível das camadas superficiais
(ataque de insectos xilófagos, lacunas volumétricas,
repintes parciais, fungos, concreções e sujidade de várias origens,
tais como fuligem, cera de velas, poeira...).
Registos fotográficos da zona superior
e inferior da imagem, antes e após a intervenção.
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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

CONSERVAÇÃO E RESTAURO - CRISTO CRUCIFICADO





Imagem em madeira policromada,
na qual existiam várias patologias,
tanto ao nível do suporte,
como ao nível das camadas superficiais
(ataque de insectos xilófagos,
lacunas volumétricas, repintes parciais,
fungos, concreções e sujidade de várias origens,
tais como fuligem, cera de velas, poeira...).
Registos fotográficos gerais da frente e reverso,
antes e após a intervenção.
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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

CONSERVAÇÃO E RESTAURO - SÃO FRANCISCO XAVIER



Imagem em madeira policromada,
que se encontrava bastante debilitada ao nível do suporte,
devido á acção devastadora de insectos xilófagos.
Além disso, a peça apresenta repinte total,
o qual não foi removido,
uma vez que a opção metodológica
aplicada não contemplou essa acção
devido a variados factores,
sendo a existência de uma pequena percentagem
de policromia original subjacente a razão principal.
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quinta-feira, 16 de junho de 2011

CONSERVAÇÃO E RESTAURO - NOSSA SENHORA DAS DORES (V)





Concluindo os posts relativos aos membros
superiores desta peça,apresentamos os últimos registos,
nos quais podemos observar o pormenor das mãos,
antes e após a intervenção de C&R.
Além da existência de muitas lacunas
ao nível das camadas superficiais(preparação e policromia),
verificava-se também a presença de repintes grosseiros
e sem qualquer critério estético e metodológico,
inerentes à profissão do conservador-restaurador.
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segunda-feira, 30 de maio de 2011

CONSERVAÇÃO E RESTAURO - NOSSA SENHORA DAS DORES (IV)





Tal como no post anterior,
apresentamos aqui vários registos,
nos quais podemos observar o pormenor das mãos,
antes e após a intervenção de C&R.
Além da existência de muitas lacunas
ao nível das camadas superficiais
(preparação e policromia),
verificava-se também a presença de
repintes grosseiros e sem qualquer critério de aplicação.
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sexta-feira, 27 de maio de 2011

CONSERVAÇÃO E RESTAURO - NOSSA SENHORA DAS DORES (III)





Nestes registos,
podemos observar o pormenor das mãos,
antes e após a intervenção de C&R.
Além da existência de muitas lacunas
ao nível das camadas superficiais
(preparação e policromia),
verificava-se também a presença
de repintes grosseiros
e sem qualquer critério de aplicação.
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sexta-feira, 6 de maio de 2011

CONSERVAÇÃO E RESTAURO - NOSSA SENHORA DAS DORES (II)



Dois registos da zona circundante
de um dos olhos desta escultura,
o qual tinha sido alvo de uma intervenção anterior,
onde haviam sido utilizados
materiais completamente inadequados.
Alguns desses materiais (colagéneo)
já tinham desenvolvido bastante o seu
processo de oxidação e degradação.
Podemos constatar também a existência
dos furos de acesso ás galerias existentes,
provocados pela acção dos insectos xilófagos,
bem como a presença de algumas lacunas na policromia
e preparação subjacente.
Por fim, verificamos também a inexistência
do efeito das lágrimas, bem como a sua reconstituição no registo inferior.
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terça-feira, 3 de maio de 2011

CONSERVAÇÃO E RESTAURO - SANTO ANTÃO (V) - LEVANTAMENTO DE REPINTES





Nestes registos podemos observar o processo
de levantamento de repintes grosseiros por via química.
Utilizámos pachos de algodão envolvidos no solvente seleccionado,
a fim de reactivar quimicamente o material usado no repinte,
facilitando bastante e desse modo a sua remoção.
Consideramos que, apesar do desgaste e das lacunas existentes,
o resultado final foi bastante compensador,
uma vez que se revelou uma plolicromia estofada
com um requinte e detalhes muito delicados e estéticamente irrepreensíveis.
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quinta-feira, 31 de março de 2011

CONSERVAÇÃO E RESTAURO - NOSSA SENHORA DAS DORES (I)



 
 Imagem de roca de cariz processional, com a invocação de Nossa Senhora das Dores, na paróquia á qual pertence. Parece-nos contudo mais correcta a designação de Nossa Senhora da Soledade, pois os atributos que representam as dores (espadas) não coexistem nesta obra em concreto. Nos registos acima, podemos observar a zona da cabeça e peito antes da intervenção, após a aplicação de massas de preparação nas lacunas e após a intervenção de conservação e restauro. Em posts posteriores apresentaremos outros registos fotográficos da obra, antes, durante e após a intervenção. Esteja atento! Obrigado pela visita!

quarta-feira, 2 de março de 2011

CONSERVAÇÃO E RESTAURO - SANTO ANTÃO (IV) - LEVANTAMENTO DE REPINTES



Pormenor do panejamento de Santo Antão,
antes e após o levantamento de repintes.
Na imagem superior, verificamos a existência
de um repinte grosseiro, sem qualquer
tipo de qualidade plástica/estética.
No registo inferior, observamos a revelação
de uma policromia estofada belíssima,
na qual o executante utilizou a técnica do esgrafito
na representação profusa de elementos vegetalistas de várias tipologias.
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